Thursday, May 30, 2013

The Sandman - Neil Gaiman

Uma das leituras mais agradáveis que tive no ano passado foram os dez volumes de The Sandman (doravante tratado por o). No formato que é conhecido por novela gráfica, mas que ficaria melhor traduzido por romance gráfico, revelou-se uma daquelas obras que há muito mais que bonecada em livros de banda desenhada.
O facto de só agora vir falar de algo que li o ano passado, para lá de alguma preguiça que é visível no que não tem sido publicado, prende-se neste caso específico com o problema de falar das obras marcantes. O Sandman de Neil Gaiman é considerado uma das mais marcantes obras no capítulo das novelas gráficas, sentindo, nos meus círculos sociais, uma sensação de quase divino muito maior do que com outras obras.
O que senti ao ler esta obra é que dificilmente a narrativa poderia ser contada sem o suporte gráfico. Os desenhos acabam por ser muito mais do o suporte para a narrativa, tal como esta está num patamar diferente do de simples explicação para o desenho. O desenho é em si parte de como se conta a história. Há detalhes, mudanças de olhares, mudanças de roupa, subtilezas de discurso, que dificilmente se passam para o papel sem quebrar o ritmo da narrativa, sem recorrer a longas passagens narrativas. Nesta obra o mostra não contes (show don't tell) assume o seu explendor máximo porque não há a necessidade de dizer mais do que o essencial.


Ao nível da história fiquei também muito satisfeito. A narrativa está bem trabalhada, com uma mitologia própria que lhe confere credibilidade e é frequente darmos por nós a dada altura a olhar para personagens e a pensar "eu já vi esta em algum lado" e lá está ela, agora protagonista, numa escala menor um volume ou dois antes, ou vice versa. Face ao comboio de ilustradores (cada volume tem pelo menos três), esta atenção ao detalhe apenas valoriza mais a obra. E volta a introduzir uma subtileza difícil em texto corrido.

The Sandman, face ao foco que o ilumina, pode ser entrar em Neil Gaiman pela porta grande e correr o risco de não conseguir a mesma satisfação com outras obras. So que essa entrada gloriosa deixou vontade de ler mais e a pergunta com que fico é mesmo como o menino se sai na prosa!