Tuesday, December 25, 2012

The War of the Worlds - H. G. Wells


The War of the Worlds, ou em português, a Guerra dos Mundos, da autoria de H.G. Wells é um daqueles livros que marcam. Não só pelas sua famosa adaptação para a rádio em 1938, mas por todo o legado que deixou na literatura e na cultura popular sobre Marte, invasões extraterrestres e os invasores.

Pode efectivamente ser considerado a obra seminal da literatura de invasão extra-terrestre, podendo encontrar-se aqui todos os temas e abordagens que gerações futuras iriam adoptar. Como todas as grandes obras, este War of the Worlds assume também a abordagem a grandes questões da sua época. De maior destaque são as do imperialismo e o evolucionismo.

No plano científico, há a grande questão da luta pelo Darwinismo. Publicado cerca de quarenta anos após "A Origem da Espécies" a Guerra dos Mundos coloca o domínio da Terra num plano de adaptação. Há a necessidade de adaptação dos marcianos a uma gravidade superior e a necessidade de sobreviverem às agressões biológicas a que a humanidade está sujeita há milhares de anos.

No plano político há a questão do anglo-centrismo. A forma como a sobrevivência do mundo depende da capacidade de a maior nação do mundo, isto é Inglaterra no auge do seu Império, sobreviver. Há aqui a forte mensagem de que os Impérios também caem e que apenas esperam pelos seus marcianos e de como há um tom de lamento, em vésperas da Iª Grande Guerra, por não se conseguir replicar a tecnologia alienígena.

A escrita assume um estilo profundamente descritivo em que o narrador anónimo nos narra, numa primeira parte, a invasão pelo seu ponto de vista, num outro momento pelo olhar do seu irmão e num momento final volta à sua própria visão. A escrita em si, podendo ser o que estava muito em voga há pouco mais de cem anos, corta muito a acção com as descrições. Dessa forma apesar de curta, há momentos em que nos sentimos sem sair do mesmo sítio, o que é uma pena pois queremos mesmo saber o que vai acontecer.

Resumidamente, numa escrita que pode não apelar à maioria dos leitores contemporâneos, The War of the Worlds é uma obra incontornável na introdução à Ficção Científica (ou à Ficção em geral) por ser uma obra que estabeleceu tónica e temas que seriam replicados ao longo de quase um século. 

Thursday, December 20, 2012

Wintersun - Time I


Em 2004 quem se movimenta na área do metal e do rock mais puxadote tinha muitos motivos para andar satisfeito. É o ano de Human Equation (Ayreon), de Leviathan (Mastodon), de Reise Reise (Rammstein), de Subliminal Verses (Slipknot) ou de Once (Nightwish) e Silent Force (Within Temptation). No entanto é também o ano em que Jari Maënpää deixou a sua marca. Não me refiro obviamente à sua participação no Iron, dos Ensiferum, mas sim do álbum Wintersun.

Os Ensiferum são apontados por alguns como uma das grandes bandas da cena Folk e Iron é apresentado como um dos seus álbuns seminais, no entanto, por motivos de conflito entre a divulgação do já referido Iron e o tempo que estúdio para gravar o seu projecto a solo, a banda perdeu nesse ano a participação do finlandês Jari Maënpää. Em boa hora o terá feito pois o álbum Wintersun é claramente superior a toda a obra da banda que o viu partir. Será mesmo, com Human Equation e Leviathan um dos três álbuns do ano.

Com tal aceitação a espera por um sucessor começou. Oito anos passaram até que os Wintersun, conseguissem lançar o sucessor do seu primeiro álbum. Oito anos muito dados a piadas e a boatos, mas que chegam ao fim com o lançamento da primeira parte de Time. Sim, tanto tempo à espera e o nome do álbum é Time! A questão que se coloca é se valeu a pena a espera.

Pela parte que me toca, esta primeira parte sabe francamente a pouco. Seria complicado apresentar a mesma frescura, o mesmo som a novo, do primeiro álbum, mas apenas três faixas de música em cinco (Sons of Winter and Stars, Land of Snow and Sorrow e Time) sabe a pouco. Claro que as três faixas roçam individualmente o épico. A primeira em particular, dividida em quatro andamentos, é como que um apanhado das capacidades técnicas da [agora] banda, apresentando várias camadas.

O produto final é portanto fiel ao princípio do primeiro álbum, apesar de lhe faltar substrato.  Provavelmente todo o projecto teria ganho com o ser lançado como álbum duplo e não em duas partes distintas, o que leva a pensar quanto tempo teremos de esperar de pela segunda parte. Musicalmente não desilude e face à impossibilidade de ser a novidade do primeiro álbum, consegue ainda assim manter o nível bastante elevado. Dificilmente será um candidato a álbum do ano, mas será para ouvir várias vezes.

Friday, November 16, 2012

A idade dourada da música portuguesa, parte 2.

Se calhar ainda é cedo mas alguns leitores fizeram-me chegar mais uma curta lista de coisas e acho que era injusto deixá-los à espera que a lista engrossasse.

A Naifa


Oquestrada


Os Golpes


Amor Electro


Teratron

É continuar a enviar nomes.

Wednesday, November 14, 2012

A idade dourada da música portuguesa

Em conversa com uma colega hoje acabei por encontrar eco para um pensamento que me assolava. Esse pensamento é que vivemos neste momento na, se lhe pudermos chamar isso, era dourada da música portuguesa. O que sucede, talvez pelo mundo global em que vivemos, é que o número de projectos que se multiplicaram nos últimos dez anos (ou assim) de música de qualidade em português se têm multiplicado e encontrado ecos editoriais. Abaixo segue uma lista dos que fazem o meu topo de preferências e que ajudam a reduzir saudades. Abençoados sejam por me manterem longe dos Dinos Meiras e afins desta vida!

Dazkarieh
Diabo na Cruz
Anaquim

Pontos Negros

Dead Combo

PAUS

B Fachada

 Mais alguma coisa digna da lista?

Monday, October 22, 2012

Citando Saramago - O Ano da Morte de Ricardo Reis 1


"Tanto mais, ah, tanto mais que há uma recomendação de Coimbra, um insistente conselho, Leia a Conspiração, meu amigo, é boa doutrina a que lá vem, as fraquezas da forma e do enredo desculpa-as a bondade da mensagem, e Coimbra sabe o que diz, cidade sobre todas doutora, densa de licenciados. Ricardo Reis logo no dia seguinte foi comprar o livrinho, levou-o para o quarto, aí o desembrulhou, sigilosamente, é que nem todas as clandestinidades são o que parecem, às vezes não passam de envergonhar-se uma pessoa do que vai fazer, gozos secretos, dedo no nariz, rapação de caspa, não será menos censurável esta capa que nos mostra uma mulher de gabardina e boina, descendo uma rua, ao lado duma prisão, como se percebe logo pela janela gradeada e pela guarita da sentinela, ali postas para não haver dúvidas sobre o que espera conspiradores. Está pois Ricardo Reis no seu quarto, bem sentado no sofá, chove na rua e no mundo como se o céu fosse um mar suspenso que por goteiras inúmeras se escoasse intérmino, há cheias por toda a parte, destruições, fome de rabo, mas este livrinho irá dizer como uma alma de mulher se lançou na generosa cruzada de chamar à razão e ao espirito nacionalista alguém a quem ideias perigosas tinham perturbado, sic. As mulheres são muito boas nestas habilidades, provavelmente para equilibrar as contrárias e mais do seu costume, quando lhes dá para perturbar e perder as almas dos homens, ingénuos desde Adão. Estão já lidos sete capítulos, a saber, Em véspera de eleições, Uma revolução sem tiros, A lenda do amor, A festa da Rainha Santa, Uma greve académica, Conspiração, A filha do senador, enfim, trocando o caso por miúdos, certo moço universitário, filho de um lavrador, meteu-se em rapaziadas, foi preso, trancado no Aljube, e vai ser a supradita filha de senador quem, por puras razões patrióticas, por missionação abnegada, moverá céus e terra para de lá o tirar, o que, afinal, não lhe será difícil, pois é muito estimada nas altas esferas da governação, com surpresa daquele que lhe deu o ser, senador que foi do partido democrata e agora conspirador ludibriado, um pai nunca sabe para o que cria uma filha. Ela o diz, como Joana de Arco à proporção, O papá esteve para ser preso há dois dias, dei a minha palavra de honra que o papá não fugiria a responsabilidades, mas também garanti que o papá deixaria de imiscuir-se em negócios conspiratórios, ai este amor filial, tão comovente, três vezes papá numa frase tão curta, a que extremos chegam na vida os afectuosos laços, e torna a dedicada menina, Pode comparecer à sua reunião de amanhã, nada lhe acontecerá, garanto-lho porque o sei, e a polícia também sabe que os conspiradores vão reunir mais uma vez, com o que não se importa. Generosa, benevolente polícia esta de Portugal que não se importa, pudera não, está a par de tudo, tem uma informadora no arraial inimigo, que é, quem tal diria, a filha de um antigo senador, adversário deste regime, assim traicionadas as tradições familiares, porém tudo acabará em felicidade para as partes, desde que tomemos a sério o autor da obra, ora ouçamo-lo, A situação do país merece à imprensa estrangeira referências entusiásticas, cita-se a nossa política financeira como modelo, há alusões às nossas condições financeiras, de modo a colocar-nos numa posição privilegiada, por todo o país continuam as obras de fomento que empregam milhares de operários, dia a dia os jornais inserem diplomas governativos no sentido de debelar a crise que, por fenómenos mundiais, também nos atingiu, o nível económico da nação, comparadamente a outros países, é o mais animador, o nome de Portugal  e dos estadistas que o governam andam citados em todo o mundo, a doutrina política estabelecida entre nós é motivo de estudo em outros países, pode-se afirmar que o mundo nos olha com simpatia e admiração, os grandes periódicos de fama internacional enviam  até nós os seus redactores categorizados a fim de colher elementos para conhecer o segredo da nossa vitória, o chefe do governo é, enfim, arrancado à sua pertinaz humildade, ao seu recolhimento de rebelde a reclames, e projectado em colunas de reportagem, através do mundo, a sua figura atinge as culminâncias, e as suas doutrinas transformam-se em apostolados, Perante isto, que é apenas uma pálida sombra do que podia ser dito, tem de concordar, Carlos, que foi uma loucura irresponsável meter-se em greves académicas que nunca trouxeram nada de bom, já pensou nos trabalhos que eu vou ter para o tirar daqui, Tem razão, Marília, e quanta, mas olhe que a polícia nada apurou de mau contra mim, somente a certeza de que fui eu quem desfraldou a bandeira vermelha, que não era bandeira nem coisa que se parecesse, apenas um lenço de vinte e cinco tostões, Brincadeira de rapazes, disseram ambos em coro, esta conversa passava-se na prisão, no parlatório, é assim o mundo carcerário. Lá na aldeia, por acaso também no distrito de Coimbra, outro lavrador, pai da gentil menina com quem este Carlos há-de vir a casar-se mais para o fim da história, explica numa roda de subalternos que ser comunista é ser pior que tudo, eles não querem que haja patrões nem operários, nem leis nem religião, ninguém se baptiza, ninguém se casa, o amor não existe, a mulher é uma coisa que não vale nada, todos a ela podem ter direito, os filhos não têm que dar satisfação aos pais, cada um governa-se como entender. Em mais quatro capítulos e um epílogo, a suave mas valquíria Marília salva o estudante da prisão e da lepra política, regenera o pai que definitivamente abandona o vezo conspirativo, e proclama que dentro da actual solução corporativa o problema resolve-se  sem mentiras, sem ódios e sem revoltas, a luta de classes acabou, substituída pela colaboração dos elementos que constituem valores iguais, o capital e o trabalho, em conclusão, a nação deve ser uma coisa assim como uma casa onde há muitos filhos e o pai tem de dar ordem à vida para a todos criar, ora os filhos, se não forem devidamente educados, se não tiverem respeito ao pai, tudo vai mal e a casa não resiste, por estas irrespondíveis razões é que os dois proprietários, pais dos noivos, sanadas algumas desinteligências menores, até contribuem para que acabem os pequenos conflitos entre os trabalhadores que ganham a sua vida ora servindo a um ora servindo a outro, afinal não valeu a pena ter-nos Deus expulsado do seu paraíso, se em tão pouco tempo o reconquistámos."
in O Ano da Morte de Ricardo Reis

Monday, September 24, 2012

As Atribulações de Jacques Bonhomme - Telmo Marçal



Telmo Marçal não existe. Telmo Marçal é um personagem. Telmo Marçal pode não ser um personagem de nenhum dos contos que escreveu, mas é um homem profundamente amargurado e azedo, dono de uma certa capacidade de passar a sua visão escura da vida para o papel e de o fazer com habilidade, de prender os seus leitores a esse seu negrume projectado nas folhas papel.

Telmo Marçal é um preconceituoso. Telmo Marçal tem contos onde as suas personagens têm uma e uma só camada e são tão carentes de profundidade que nos perguntamos se existirão mesmo. Só que os estereótipos que a personagem Marçal faz desfilar nos seus contos, são os estereótipos que toda uma sociedade criou para culpar o outro, e só o outro, pelas suas falhas.

Telmo Marçal é um pessimista. Não há contos de Marçal que pintem um futuro ou um presente risonhos. O presente está cheio de corrompidos e o futuro de iluminados opressores. O futuro de Marçal é o fruto da lei do mais forte e da bota cardada, das facas longas em noites de cristal, dos campos de indesejáveis eugénicos, preguiçosos limpadores de sanitas, bodes expiatórios dos nossos pecados.

Os leitores de Marçal são personagens que depressa se prendem à prosa do autor. Não é uma prosa elaborada mas é uma prosa eficaz. Uma prosa que provoca tonturas. Uma prosa de arrepios frios. Uma prosa que cresce, que sorve a alegria em seu redor.

A personagem que criou os textos reunidos neste livro tem no entanto vontades que o extravasam. Ela não se quer ficar por contos. A forma como por vezes se perde a descrever os locais onde decorre a história são mais próprios de romances do que de contos. A forma como nos conta o como as suas marionetas chegaram ali é própria de um ser aterrorizado com a ideia de as suas subtilezas não serem compreendidas, é a forma como um ditador faz valer a sua vontade, para que apenas a sua forma de interpretar seja possível e passível. Essa é a grande falha desta obra. A vontade de transformar cada conto num pequeno romance é o que cansa o leitor, o que o faz querer saltar um parágrafo ou sentir que se perdeu no caminho. É quando o autor quer fazer o conto crescer para lá de conto que a imagem formada se torna uma nuvem de fumo tóxico. Não que todos os contos padeçam desse mal, pois entre eles está do que melhor tenho lido recentemente em português, mas esses defeitos estão lá e distraem e quebram o ritmo e o exercício de condensação num só volume de contos escritos para várias fontes ao longo dos anos, sem nenhum tipo de controlo ou cimento entre eles, faz com que seja impossível não verificar como para o final alguns já começam a parecer ou esboços ou uma re-escritura de outros.

Friday, August 10, 2012

Optimus Alive 2012

Este ano a visita a Algés foi mais extensa do que em 2011. O cartaz era feito de poucos conhecidos e a proposta era essencialmente de descoberta. Essa abordagem pode ser ingrata para os conhecidos, uma vez que geram expectativas, e feliz para as descobertas, pela falta das mesmas.

Qualquer comentário ao que foi o festival terá de passar obrigatoriamente por comentar o que foi a presença dos Radiohead. Estou longe de ser um ferrenho conhecedor da banda, de modo que as minhas expectativas para o que poderia ser um concerto deles foram muito influenciadas pela expectativa que criaram à minha volta. E que expectativas eram essas? Para começar gente que por instantes esqueceu que tinha contas para pagar e foram a correr ajudar a esgotar o terceiro dia do festival. Outros, exilados em paragens mais frescas e sem férias para gastar, a lamentarem profundamente a sua incapacidade de fazerem oito horas de vôo (quatro para cada lado) para assistirem à banda. Uma olhadela atenta ao horário dos palcos permitia concluir que durante a actuação de Radiohead, mais nenhum palco estaria a funcionar. A noite prometia portanto ser épica. Prometia mas falhou a toda a linha! Provavelmente tem de se ser um indefectível adepto da banda para se conseguir apreciar todo o eventual esplendor colocado em palco. Radiohead foi, não há outra palavra, uma merda. Foi algo de tão mau, tão mau que ainda antes do final abandonei o local onde me encontrava para ir comer qualquer coisa bem longe deles. Posso assegurar que não fui o único a fazê-lo e nem sequer o primeiro, mas percebe-se perfeitamente a atitude das pessoas porque era decididamente muito cedo para se começar a fazer o chill out. Radiohead vieram como cabeças de cartaz quando, para fazerem o bonito número a que se prestaram, deviam ter sido atirados para as três da manhã como banda de chill out. Confesso que se estivesse num bar pequenino, sentado e a conversar com amigos, o concerto teria andado a roçar o muito bom. Num ambiente de festa e todo ele a transbordar energia, Radiohead foram os assassinos do ambiente, aquilo que em inglês se designa mood killers. Nessa fina arte de dar banho aos cães eles foram geniais até porque conseguiram juntar um alinhamento para koalas mordidos pela tsé-tsé a uma total inabilidade (falta de vontade?) para comunicar com o público. Quem tivesse assistido às nem-sequer-tentativas de interagir pensaria que os Radiohead seriam a banda chamada à última da hora para substituir um cabeça de cartaz. Ao lado das palavras isoladas de Thom Yorke (se entre músicas usou mais do que, assim por cima, três eu não ouvi), os sussuros impercetíveis de Robert Smith no dia antes soavam a poesia. Até a choraminguice de B Fachada conseguia ser enternecedora. A título de curiosidade, os SBTRKT conseguiram utilizar na sua apresentação ao público mais palavras numa frase, que os Radiohead no concerto todo. Salvou-se o bom trabalho vídeo, mas mais uma vez, isso podia eu ter num bar...

O que dificilmente teria num bar era a performance absolutamente irrepreensível dos portugueses PAUS. Só eles fizeram valer a pena ter estado neste dia no Alive. Sonoridade fresca, abordagem impecável e interacção com o público sem mácula. Muitos podem-me chamar louco, mas acho que os veteranos cabeças de cartaz não perdiam nada em descer do seu pedestal e aprender com estes novatos a tomar o pulso à plateia. B Fachada trouxe lá mais para a tarde o seu karaoke cheio de ritmos calmos e introspectivos. Comunicou muito com o público, mas o papel de coitadinho a entre cada duas músicas não combinava com aquele final de tarde à beira rio. De Márcia, que havia actuado momentos antes só ouvi parte de uma música. Não gostei do que ouvi e portanto fui para outras paragens, mesmo a tempo de ouvir o final de Warpaint e de lamentar não ter ouvido todo o concerto. Os instantes de Maccabees que ouvi também foram interessantes, mas havia alguma expectativa de ir arranjar um lugar para a grande banhada...

No capítulo do "esperava um bocadinho mais" terá de se recuar um dia e falar dos Florence and The Machine. Esperava-se mais, porque acima de tudo se esperava que aparecessem! O ritmo a que alguns artistas recentes ficam com súbitos problemas vocais faz pensar que o regime saudável de outros tempos é bem mais saudável. Perguntem aos Rolling Stones que eles explicam... Para tapar a cratera lá se chamaram os Morcheeba. Muitos dos ouvido mais jovens ficaram frustrados, mas têm de ser perdoados. Afinal daqui por quinze anos será a Florência deles que será chamada para tapar buracos! Sim rapaziada, houve uns tempos em que os Morcheeba eram para nós o que Florence and the Machine é para vocês! O alinhamento foi agradável, mas não aqueceu muito a assistência, até porque soprava uma brisa do rio que destoava do dia quente.

Se as orelhas de há quinze anos começaram a aquecer com Morcheeba, as de há 25 escaldaram com o que se seguiu. The Cure podiam muito bem ter tocado toda a sua discografia que no final não chegaria. A multidão de indefectíveis custou a arrancar, mas os toadas mais mornas tiveram o condão de refrescar os sectores menos condensados da assistência, fustigados que eram por faixas introspectivas e uma aragem fresca. 

Nada fresca, mas sim muito escaldante, foi actuação dos Blasted Mechanism. Com álbum novo na mala e prestes a celebrar mais um aniversário sem esse monstro do palco que era o seu primeiro vocalista, a banda apresentou um registo onde os temas novos se integram muito bem nos velhos, apresentou arranjos diferentes, mais em linha com a sonoridade presente, cativou todo o palco secundário e mostrou que serem atirados para as três da manhã foi uma tremenda injustiça para uma banda da casa. Não que isso importasse! A interacção com o público foi total e se antes havia uma figura de destaque, neste momento há um colectivo de destaque, sempre a puxar para cima a energia do público!

Antes nesse dia, os Awolnation mostraram que a sua música não se fica pelo muito tocado Sail. Há ali muita energia e músicas para abraçar o parceiro do lado. O vocalista vestiu impecavelmente a pele de mestre de cerimónias e saí do concerto bastante satisfeito.

Outras aragens, mas estas mornas a dar para o escaldante, minaram o concerto de Stone Roses na primeira noite do festival. Não é que o alinhamento fosse fraco, não é que faltasse entusiasmo na banda ou nos presentes, simplesmente foi injusto pô-los a tocar ao mesmo tempo que a malta se acotovelava (no bom sentido) na outra ponta do recinto para ouvir (muitos não conseguiriam ver) os Buraka Som Sistema. Passar junto ao palco secundário e não começar a "dançar" (usemos o termo num sentido lato, no qual se incluem coisas como "abanar-se") era impossível. Acredito mesmo que as próprias árvores e pedras da calçada estavam a dançar, tal o contágio que emanava do palco.

Este dia acabou por ser mesmo para mim o mais interessante. Apesar de apenas ter assistido a partes dos concertos, Miúda e Dum Dum Girls brilharam muito, mas a minha razão de estar no recinto no primeiro dia foram os suecos Refused e não desiludiram. Punk agressivo q.b., uma mensagem aqui e ali e a mesma música de sempre, a encorajar um dos melhores moshes onde tive o prazer de estar nos últimos anos.

Um comentário à organização. Já o ano passado, em que só fui um dia, havia ficado um profundo sentimento de injustiça quanto à arrumação dos palcos. Desta vez o sentimento cresceu na directa proporção do número de dias em que lá fui, mas não só. Mais do que a sobreposição de concertos interessantes, por mais do que uma vez se revelou que havia bandas escaladas para o palco errado. 

Na categoria sobreposição houve melhorias, mas não se evitou o momento quase confrangedor ver que Stone Roses tinha uma mancha a assistir quase tão grande como... PAUS! Em grande parte porque muito público se deslocou do palco principal para o palco secundário, para os lados do palco secundário, para trás das barracas de comida que tapavam a vista para o palco secundário, enfim... Para onde lhes fosse possível serem contaminados pelos ritmos de Buraka.

No capítulo "banda certa no local errado" entram direitinhos, lá está, os Buraka. Com gente que ia até bem longe do palco, a banda da Buraca justificou um lugar num local mais amplo. Se a quantidade de gente por si só não chegasse, o facto de puxar mais gente com o passar do concerto, ao contrário de outros cabeças de cartaz, fá-lo-ia. Ainda no primeiro dia, os LMFAO levaram muitos pais a levarem a sua prole pela mão para assistir ao concerto. Agora, eu gosto muito dos Refused e adorei o concerto deles, mas claramente a sonoridade dos suecos presta-se muito mais ao recato de um palco secundário do que a actuação de uma das bandas quentes do momento. Ficou, no final do terceiro dia, também o sentimento que houve má gestão dos cabeças de cartaz. Quando olho para o que foi o festival, se Stone Roses tocasse no terceiro dia e Radiohead no primeiro, todo o sentimento poderia ter sido diferente. Se, se, se...

No capítulo transportes, lamento profundamente que a malta da Margem Sul continue a ser maltratada. Como se não bastassem os cortes do Governo nos barcos, a organização manifestou a incapacidade (eu gosto de pensar que não conseguiram, mas...) de arranjar barcos especiais combinados com os últimos comboios/autocarros, mas tirando esse particular parece-me que houve um investimento em facilitar as acessibilidade ao festival.

Concluindo, um festival sempre agradável que começa a granjear adeptos em paragens mais distantes, mas que me deixou com muitos "ses" e isso não me deixa elevá-lo aos píncaros...



PRÉMIO "Quero o meu dinheiro de volta!"
-Radiohead
-Márcia

PRÉMIO "Eu até estava cansado e a precisar de descanso."
-The Cure
-Morcheeba
-B Fachada

PRÉMIO "Não conhecia estes tipos, mas o bilhete começa a parecer bem comprado."
-Awolnation
-Miúda
-Dum Dum Girls
-Warpaint

PRÉMIO "Agora sinto-me Alive!"
-Blasted Mechanism
-Buraka Som Sistema
-Refused
-PAUS (chamemos-lhe Banda Revelação)

Thursday, August 9, 2012

O Bom Demónio - Nikos Kazantzakis



O título O Bom Demónio dirá muito pouco ao público em geral. No entanto, o nome da personagem principal depressa fará soar alarmes de reconhecimento. O nome: Alexis Zorba. Esse mesmo, a figura que ficou imortalizada por Anthony Quinn no filme Zorba, o Grego, é a figura a que o título desta obra se refere.

No momento em que fechei este livro, tudo o que ele narra faz sentido de uma forma estranha. Estranho porque creio que dificilmente o livro apelaria aos meus sentido se o país onde me encontro não tivesse dias de Verão com temperaturas bem abaixo dos vinte graus, onde a chuva e o vento são as únicas incógnitas sob as nuvens, onde a comida não tem sabor e o trabalho é encarado como a redentora cura de todos os males. Se não me encontrasse rodeado dessa filosofia do viver para trabalhar, o livro dificilmente faria sentido.

Pensando melhor, o livro faz sentido talvez um pouco por todo o lado, muito dado ao momento em que vivemos, e será difícil não olhar para ele como literatura subversiva de todos os valores que nos têm sido papagueados nos últimos anos.

Não é que a obra não incida sobre a amizade entre o narrador e Zorba, essa amizade tão bem passada para a tela por Alan Bates e Quinn, mas o livro é mais, muito mais! Fazendo uso das ferramentas ao seu dispor, Kazantzakis recorre ao seu eu literário para nos contar o que foi para ele crescer e conhecer o verdadeiro Zorba. Com frases simples e facilmente acessíveis, Kazantzakis torna todo o livro um tratado de Filosofia, onde o discípulo vai confrontando o mestre. Confronto é a palavra chave do livro, tal a frequência e tais as formas que este toma. Ele é o saber teórico contra o empírico, os livros do narrador contra a vida de Zorba. Ele é a juventude contra a idade, os sonhos contra a realidade, o mudar o mundo contra o ter sido mudado, a ilusão contra a prudência, a inocência contra a matreirice. Zorba não é um personagem qualquer, ele podia ter sido o nosso pai. Zorba é um pai para o narrador, é a figura paternal que o ajuda a passar da adolescência para a idade adulta.

Uma leitura de O Bom Demónio à luz do momento que vivemos não deixará de notar como esta obra transpira todo um ar de trabalhar para viver. Zorba surge como um farol de alegria, mesmo nos momentos maus Zorba aparece como o homem que aprendeu a dar a volta e encarar sempre pela positiva. Zorba é a figura que nos diz que por muito que a escola nos ensine, nunca saberemos nada enquanto não nos fizermos à estrada, enquanto não cairmos e nos levantarmos. Num momento em que figuras engravatadas, mas ainda de fraldas, nos dizem que o nosso fim é morrermos a trabalhar para eles, este livro é um hino à rebelião e portanto uma leitura indispensável.

Tuesday, August 7, 2012

O que está para vir.

 Passadas as féries é altura de abordarmos o que de agradável se passou nessas férias. Do ponto de vista deste blog haverá novidades.

 Haverá um comentário ao que foram três dias no Optimus Alive, uma quebra com a rotina e hipótese para rever amigos de longa data e de há muito tempo, para agradáveis surpresas e para desapontamentos.

 Em termos de matéria escrita haverá ainda espaço para comentar as obras que recentemente se fecharam. Azincourt, um romance histórico de Bernard Cornwell que relata a batalha da Guerra dos Cem Anos, que decorreu no local com o mesmo nome, e que marca o regresso do autor às histórias com o arco inglês. Outro volume que se fechou foi O Bom Demónio, de Nikos Kazantzakis romance que conta como personagem principal com um tal de Alexis Zorba. Para quem desconhece, recomenda-se o visionamento do filme Zorba, o Grego.

 As férias serviram ainda para adiantar as leituras do romance gráfico The Sandman, de Neil Gaiman, e de adiantar a leitura da Colecção de Livros Licenciosos, da editora Tinta da China, coordenada por António Ventura, pelo que será expectável que até ao fim do ano se comentem estes blocos.

Wednesday, June 27, 2012

Pearl Jam - Ziggo Dome, Amsterdam, 26-Junho-2012

Este ano vou tentar ir falando dos concertos à medida que acontecem. Também a frequência deve ficar aquém do ano anterior (dica: alguns dos melhores ficaram por comentar).

A época este ano abriu com um nome grande. Pearl Jam no recém inaugurado Ziggo Dome. O alinhamento teve tudo de bom. Da minha lista de músicas preferidas só ficou de fora o Jeremias, mas como a lista é longa  percebe-se.



Como é que um apreciador de música, sem conhecimentos técnicos avalia um concerto? Quer dizer, à partida quem compra um bilhete já tem uma ideia daquilo ao que vai, portanto o espaço para o desapontamento está reduzido logo à partida (apesar de já me ter acontecido). Um método que desenvolvi é medir o tempo até que olho para o relógio. Ontem passava uma hora e pouco desde o início do concerto e a banda tinha-se retirado para um descanso. Mais meia hora, mais descanso e aí estou eu a olhar para o relógio outra vez. O olhar final, que só ocorreu após o final de Yellow Ledbetter, já era mais para perceber qual o comboio que ia apanhar.




 O que achei do concerto? O Ed (foi ele que pediu para ser tratado assim) disse que o concerto de ontem foi o 12º da banda na Holanda. Pois bem, pegando no número o que posso dizer é que ontem durante quase duas horas e meia voltei a ter doze anos e ia para casa do meu melhor amigo ouvir as cassetes do vs e do Vitalogy sem parar, tempos despreocupados, senti-me ganhar anos. Quem nos consegue voltar a sentir jovens merece o nosso agradecimento. De cada vez que andamos para trás estamos no fundo a ganhar todos esses anos lá mais para a frente. Quem nos faz esse favor retarda-nos a senilidade. Todos os momentos em que tal sucede saboreiam-se de uma forma especial. Ontem foi uma dessas noites.

Thursday, May 31, 2012

Frankenstein, de Mary Shelley



É frequente vermos escritores maduros recomendarem aos mais novos que leiam muito que leiam os autores clássicos. Confesso que o género do terror está um pouco longe das minhas preferências e as últimas experiências que tive, ao opinar sobre uma colectânea que incluía uma divisória dedicada ao género, me deixou mais aterrorizado pela pobreza da escrita do que agradado pela riqueza de conteúdos. Foi pois com alguma renitência que peguei na primeira obra de Mary Shelley.

 Devo dizer que, finda a leitura, em boa hora o fiz e melhor ainda percebi porque os escritores com muitas páginas escritas recomendam aos novatos que percam tempo a ler os clássicos. Acontece que por algum motivo chegaram a clássicos e, nisto de livros, dificilmente um livro é de tal forma mau que dá a volta e se torna imortal.

 O livro, que se lê num instantinho, desfaz um certo mito enraízado na cultura popular. O monstro nunca é baptizado. Ou melhor, quando nomeado, é normalmente designado por substantivos que traduzem um certo carácter de figura aberrante. Estando a figura do monstro de tal forma entranhada na nossa mente, é com algum espanto que notamos num certo conflito entre o descrito na obra e o formulado na nossa cabeça. O doutor é um jovem que iniciou faz pouco tempo os seus estudos superiores e que quase sem querer descobre o segredo de criar vida. Também a monstruosidade que ele cria está muito longe de ser aquela espécie de frigorífico verde que muitas vezes lhe associamos.

 É nestes confrontos entre a cultura popular e a obra escrita que se acaba por retirar ainda outra particularidade. Frankenstein é muito mais do que um simples conto e cresce rapidamente à categoria de um certo ensaio filosófico. Há ali uma certa sombra das consequências dos nossos actos, há ali um certo foco no julgamento baseado nas aparências. Sim, a páginas tantas damos connosco a odiar o monstro e noutras o seu criador. É possível gostar do monstro, é possível mesmo sentir alguma simpatia por ele e isso só é possível porque a escrita sendo simples, nunca resvala para o simplista.

 Um pouco mais acima mencionei o uso de vários substantivos para descrever a criatura. É importante que se fale nessa classe de palavras, porque uma das primeiras falhas dos aspirantes a escritores é o recurso a infindáveis listas de adjectivos. Essas listas nesta obra primam pela ausência. Há adjectivos com conta peso e medida, da mesma forma equilibrada que aparecem os trechos descritivos.

 Será um pouco precipitado dizer que a leitura desta obra me converteu ao género. Gostei da obra essencialmente porque serviu para fortalecer o meu ponto de vista que a literatura de género serve para arrumar livros nas estantes, afinal os livros dividem-se em duas categorias: os bem escritos e os mal escritos. Ler os primeiros ajuda a perceber como evitar produzir muitos dos segundos. E nos dias de hoje em que, como diz um conhecido, há mais escritores que leitores, seria bom que todos os aspirantes a produtores de obras, parassem de produzir e se dedicassem a consumir os clássicos.

Wednesday, May 30, 2012

"Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura." - António Lobo Antunes


 Será, em termos de volume, um dos maiores livros do autor e hesito em escrever romance. Hesito no romance pois não estou seguro que seja um romance. Estamos seguramente perante um dos melhores exemplares da escrita poética do autor, perante uma das menos lineares narrativas, uma análise, desta vez não às profundezas da mente, mas às teias que unem uma família a fragmentar-se. Acresce ainda que este "Não entres tão depressa nessa noite escura" é ainda um brilhante exemplar de como o acto de ler pode ser fisicamente desgastante sem que isso implique uma escrita sombria.

 A afirmação de que a escrita de A. Lobo Antunes não é sombria poderia ser por si só motivo de discussão. No extremo poderia levar um conhecedor a pegar nesse livro, a perder-se nos seus primeiros capítulos e a fechar o livro para nunca mais o abrir. Na realidade, este que vos fala releu os três primeiros capítulos três vezes para se embrenhar nesse fim tarde, para descortinar os raios de sol pelas grandes janelas do hospital onde tudo começa, onde se espera que o pai de uma família sem nome vá para a sua operação ao coração e que volte como novo para os Cuidados Inten ivos. Foram três releituras para que se formasse então a inevitável pergunta: que noite é essa de que nos fala o título?

 Essa pergunta atravessa toda a obra. Ela vai mudando à medida que mudam os capítulos, vai tomando nuances consoante o narrador, mas está sempre lá. Ela é a morte de um pai de família com problemas de coração, ela é a vergonha de uma família pejada de dívidas que alimentam uma ilusão de grandeza imposta pelos vizinhos, é a pobreza tão profunda que emana um cheiro nauseabundo e torna os pobres em gente sem direitos, sem inteligência, agradecidos por todas as migalhas que os ricos não precisam e sacodem para fora da mesa, que os bestializa e que envergonham quem se dava com as elites coloniais. Pode ainda essa noite ser a vida de sonhos e personagens imaginárias, escondidas em quartos alugados nas traseiras do barbeiro de uma aldeia que não são mais do que quatro casas, ou será essa noite a vida real que vivemos, nos sufoca e nos leva a sonhar com o que podia ter sido, o que podíamos ter mudado, podem ser todas as noites, pode não ser nenhuma delas.

 A obra é apresentada no tradicional estilo catártico do autor, da personagem no consultório a analisar a sua vida. No entanto há algo que torna esta obra particularmente distinta no cânone do autor. Sem sacrifício da densidade e profundidade da escrita, capazes de cansarem o autor, verifica-se que há um tom luminoso que atravessa toda obra. Ao contrário de outras obras do autor, em que nos sentimos abraçados pelas sombras, nesta há uma aura luminosa que ilumina as cenas de espera pela morte em salas de espera, que iluminam os traficantes na praia, que é o raio de luz pela janela do andar de Alcoitão, a luz das máquinas do casino quando se apostam móveis e jóias de vidro. É uma constante na obra, uma oposição a essa noite escura de que nos fala o título, mas não se pense que transborda de alegria. É uma luminosidade que abraça momentos do mais puro desespero que se apodera de nós nas horas de incerteza, que brilha sobre a angústia que sentimos quando vemos o nosso mundo a cair, esse foco que incide sobre o envergonhado. É a luminosidade que passa por entre as folhas das palmeiras, nessa hora de incerteza sobre o passado, quando nos perguntamos "e se tivesse sido de outra forma?".

 Há ainda um lado social na obra. Como disse anteriormente, desta feita o mergulho à profundezas da mente humana é substituído por um dissecar de relações interpessoais, uma perspectiva sobre como nos integramos no meio social. É um olhar sobre essa sociedade de ilusões, as aparências em que tem de se nascer para que se seja aceite, porque os pobres são burros, emanam o cheiro de pobreza, não podem brincar com quem partilhava fins de tarde com o presidente Kruger.

 Toda a obra é a descoberta dessa família de Cascais, saudosa dos tempos africanos, em que mandava e não negociava com pretos e árabes. Uma menina que luta por respeito junto dos alunos, apesar da menina a caminho do casino sem ter o que jogar, a família que faz por esquecer o bastardo com nome de princípe herdeiro que acolhe no seu meio, emanando o cheiro a pobre, a preocuparem-se com os empregados e particularmente com a Adelaide, presa que está entre o que foi, o que gostavam que tivesse sido e o que é.

 E há a Maria Clara. A Clarinha, a Maria Clara que é o homem da casa, nunca Clara, a mãe. Maria Clara a redatora deste diário, a gota de sanidade num micro-cosmos louco, o pilar de realidade que sustenta a vivência imaginária de uma famíilia que tem o pior dos cegos por mãe. A Maria Clara é o homem da casa que perscruta nessa arca do sótão as origens do pai, a Adelaide com uma criança ao colo, as fotos do professor de aldeia. A Maria Clara que nos conta, com uma inveja na pena, a forma despudorada como o médico despia a irmã com os olhos, a Maria Clara que gostava de ser como Ana, o homem da casa que gostava que a Ana gostasse dela, que lia em revistas a opinião dos psiquiatras sobre a normalidade do amor entre mulheres, a Clarinha que queria ser mais mulher. 

 Há que falar de Clara, mãe de duas crianças, que vive com o marido na casa dos sogros, que não está mais em Cascais, que foi com a irmã a uma cave em Algés, antes desta ir para Itália e desaparecer da vida deles. A Clara que aparece no conto no momento em que se revela essa noite escura. Não é mais Clarinha, não mais a Maria Clara é o homem da casa, Clara, a sombra que nos sussurra como tudo poderia ter sido bom se tivesse sido assim e que no final nos deixa com a dúvida se alguma vez saíremos dessa noite escura.


 Em jeito de conclusão, este Não entres tão depressa nessa noite escura é uma narrativa poética que me ia deixando fisicamente cansado, mentalmente esmagado e no entanto envolto numa radiância. António Lobo Antunes não o escreveu para os fracos de espírito, nem para quem começou agora a perceber que ler é mais do que articular palavras. Esta obra terá de figurar em qualquer discussão sobre a magnum opus do seu autor.

Monday, May 21, 2012

A Vida Sexual de Catherine M - Catherine Millet

 
"O desejo exasperado é um ditador ingénuo que não acredita que possam opor-se-lhe ou sequer contrariá-lo.", Catherine Millet in A Vida Sexual de Catherine M.

Lançado em formato de livro de bolso, numa parceria entre a ASA e a FNAC, "A Vida Sexual de Catherine M", da jornalista francesa Catherine Millet, acabou por ser o mais bem sucedido exemplar dessa colecção. Pode haver vários motivos para tal. No que a mim diz respeito, lembro-me de ter adquirido a terceira edição da obra, poucos meses após esta estar disponível. Li... Corrijo, comecei a lê-lo pela primeira vez nessa altura, ainda com vinte Primaveras incompletas. As expectativas para o livro saíram totalmente goradas, não correspondidas, senti que foi dinheiro mal empregue.

Vários factores estariam na base dessa desilusão. Um livro que tem por título "A Vida Sexual" de alguém e que causa alguma celeuma no seu país de origem, não deve ser um livro que prime por pasar uma visão polida, idealizada e púdica, digna de ser partilhada num almoço ou jantar de família. Ou um jovem adolescente assim o pensa!

O factor de choque nesta obra parece que incide não no vocabulário utilizado, não nos relatos descritivos, mas sim na essência do que eles passam. Não é o que diz, mas sim o que não diz que choca na obra. Choca certamente o despudor com que uma figura pública torna pública a sua intimidade, desde as primeiras experiências adolescentes até uma vida adulta recheada de orgias e experiências menos ortodoxas. Só que tudo faz sentido, tudo é parte de um processo, tudo é crescimento e aprendizagem, uma procura da identidade da autora.

O tom da escrita é o de balanço, introspecção. O tom que se usa quando sentimos que parte de nós chegou ao destino e nos propomos a ver como foi a viagem. Funciona, o livro, como balanço ou como exercício de sofá de psicólogo! Uma expedição arqueológica a episódios do nosso crescimento que nos ajudam a perceber porque somos assim, como chegámos onde chegámos. O livro poderia facilmente ter outro título: "A Descoberta Sexual de Catherine M.".

Nesse processo de descoberta, a autora acaba por colocar em planos distintos a sua sexualidade e os seus relacionamentos emocionais. Há, ao longo do livro, uma clara distinção entre ambos, uma distinção que chega a roçar o sobre-humano, uma distinção e um leque de ocorrências que parecem saídas de um filme pornográfico de baixo orçamento, que levam o leitor a questionar-se se não estará a ler uma versão fantasiada dos factos. E isso choca!

Esse é, parece-me, o principal factor de choque no livro. O facto de ser possível colocar em planos distintos a vida sexual e a vida emocional, apesar de se tocarem, vai contra o nosso desenvolvimento e choca. O facto de haver a posibilidade, mesmo que remota, de aqueles factos serem reais, expõe-nos como hipócritas, como criaturas que lutam contra a sua própria natureza. Que o faça numa linguagem simples, sem abusar do calão, mas não se coíbindo de chamar o caralho, o cu, a cona ou os colhões pelos nomes que todos usamos quando falamos, apenas reforça esse sentido de choque.

Haverá quem queira odiar o livro pela explicitude que não tem e acabará a odiá-lo por se recusar a cair no banal, no pornográfico. Por outro lado, o público mais imaturo, o público das vinte Primaveras, acabará por odiar o livro por não ser suficientemente pornográfico. Para esse público o livro não lhes dá nada de mais, para esse público há uma panóplia de outras ferramentas. É por isso que este é um livro que deve ser lido, preferencialmente, por gente madura: quem não se conseguir chocar com o livro e o achar banal, provavelmente ainda não tem quilómetros de estrada suficientes para ler o que não está escrito. Só uma audiência madura conseguirá notar a fina linha que na obra separa as vicissitudes e o sofrimento das alegrias vividas, porque a forma de a autora ultrapassar umas e saborear as outras, é em camas, ao ar livre, com um parceiro ou com vinte. É polémico por expôr uma pessoa. E todos somos humanos...

Sunday, May 6, 2012

Pai Natal subcontrata Coelhinho da Páscoa


 Não sou particular adepto das figuras no título, mas a piada era tão fácil de fazer que não resisti a usá-los!

 Este tópico visa contar a conclusão da saga da encomenda à Saída de Emergência (confirmar em Onde fica a Saída de Emergência).

 Três dias após o referido tópico escrevi à editora o email que abaixo transcrevo (falta de acentos e outros sinais gráficos, novamente cortesia de um teclado em estrangeiro):

Reparei há cerca de uma semana, no meu perfil do vosso site, que a encomenda em epígrafe se encontra com o estado de "enviada".

Gostava que me fornecessem os detalhes da expediçao, para que eu pudesse ir aos correios da minha localidade indagar sobre o paradeiro da mesma, uma vez que até ontem nao me havia sido pedido para a levantar.

Face ao arrastar da situaçao, gostava também de alguma celeridade na resposta.
Atenciosamente,
[O meu nome]

 Ou este período do ano é menos movimentado nas caixas de correio, ou por esta altura já há alarmes para quando entra uma mensagem minha! Digo isto porque no próprio dia (e nesta fase isto para mim já era motivo de surpresa) recebi a resposta, conforme se transcreve:

Caro [O meu nome]

Estamos a falar de uma encomenda bastante antiga.

Efectue nova encomenda com os mesmos títulos.
Se for um caso em que na altura existisse uma promoção especial efectue a mesma via este e-mail ou natacha@saidadeemergencia.com
Atentamente
Marta Lima 
 Ora bem... Nesta fase fiquei a pensar que para lá de publicarem, naquela editora vivem a ficção que publicam. Será que ninguém me podia ter dito isto antes? Então, se a encomenda é antiga, para que serviram todos os outros emails? Meio abananado decidi não responder imediatamente. Aliás, nesta fase ponderei mesmo se havia de ir em frente com a encomenda. Deixei passar o fim-de-semana e na segunda-feira, mais calmo, decidi refazer a encomenda e enviei o seguinte email, quer para a senhora Marta, quer para a senhora Natacha (porque nesta fase o ideal era mesmo aumentar as probabilidades de alguém ler o email):

Cara Marta,

Permita-me desde já manifestar o meu desagrado por todo o tratamento de que fui alvo por parte da vossa editora, desde os longos tempos de resposta até à constataçao de que, passados três meses, aparentemente a encomenda que realizei nao só nao foi tratada como, quer-me parecer embora nao o possa confirmar, ignorada. A isto pode-se acrescentar informaçao aparentemente falsa uma vez que, como consta do meu perfil no vosso site, a encomenda já foi enviada quando parece-me que nem sequer empacotada foi! Caso tenha sido de facto enviada volto a pedir (pela terceira vez) que me forneçam os dados da encomenda para que possa tratar da situaçao junto dos Correiros.

Nao é o primeiro serviço de compras online que utilizo e com todos já tive problemas, mas o que os distingue do vosso é o cuidado colocado em querer resolver um problema e a vontade com que se esforçam por passar uma imagem de organizaçao, de seriedade e de profissionalismo, mesmo quando a falha nao ocorre do lado deles. Nenhuma destas características foram reveladas por parte da vossa empresa e terei de tirar daí conclusoes.
Apesar de tudo e após ter ponderado bem durante o fim-de-semana, decidi re-efectuar a encomenda. Como o livro que pedi ao abrigo da promoçao 2=3 nao se encontra na lista deste mês faço-o através dos contactos que me pediu. Segue abaixo cópia do seu contacto de 8 de Fevereiro, onde consta a encomenda realizada na altura. Em relaçao ao livro extra que se comprometeu a enviar, reconfirmo o interesse na obra [obra escolhida], de [autor da obra], conforme o comunicado a 27 de Fevereiro.
Esperando que esta nova encomenda nao padeça dos males da anterior, despeço-me cordialmente,
[O meu nome]
[cópia do referido email]

Mais tarde nesse dia recebi a seguinte resposta:

Caro [o meu nome]

A sua encomenda com o livro de oferta escolhido, mais o livro [obra escolhida], seguiu hoje com o código dos CTT: [código dos CTT]

Pode fazer o rastreio da mesma em www.ctt.pt
 Acho que os prazos falam por si, portanto segue abaixo a tabela retirada do site dos CTT (não coloquei as localidades, mas não é necessário para se perceber a aventura). A verdade é que em menos de uma semana recebi as minhas encomendas e ainda me pude dar ao luxo de a deixar a marinar dois dias nos correios.

Escusado será dizer que nunca mais compro um livro desta editora!

Monday, April 30, 2012

Fénix Fanzine nº1

 A pedido da equipa editorial, aqui fica a informação de que a fanzine Fénix já está disponível para encomenda. Para tal devem-se dirigir a este site.



 Na minha posse está já um exemplar as primeiras impressões dão de um exemplar físico de aspecto cuidado. Uma análise será publicada brevemente.

Saturday, March 31, 2012

Death of Kings - Bernard Cornwell


Bernard Cornwell revela-se como um autor que aproveita os espaços em branco que há na História para aí colocar os seus romances, tramas plenas de imaginação de mãos dadas com situações documentadas. Apesar de na sua generalidade a escrita ser magnética, o anterior volume das Saxon Chronicles (The Burning Land) havia sido um longo bocejo de alguma banalidade. Perguntei-me na altura se a vontade do autor em escrever estas narrativas sobre a formação de Inglaterra pelos olhos de um seu longínquo antepassado não se estaria a tornar um enfado e, quando comprei o mais recente volume (Death of Kings) , temi que pudesse ser um desperdício de dinheiro.

 Tal não foi o caso e Bernard Cornwell redime-se totalmente nesta obra desse pecado que foi o volume anterior! Com Alfred cada vez mais doente começam as manobras de bastidores para a conquista de Wessex. Os reinos Vikings reúnem tripulações para a vitória final e os reinos Saxões manobram nos bastidores para assegurar que estão na linha da frente da sucessão, todos eles ameaçando o sonho do soberano em unir todas as terras dos Saxões. Peça central de ambas as tramas é Uthred, o senhor da guerra que tem actuado como o Escudo de Mercia, e que neste volume assume a vontade de ser a Espada dos Saxões. Preso por votos de lealdade à irmã de Edward, descendente predilecto de Alfred ao trono, todas as facções vão tentar removê-lo das contas da sucessão.

 Pela sucinta descrição da obra dá para perceber que as grandes batalhas, imagem de marca de Cornwell pelo realismo visceral com que as descreve, não serão presença assídua nesta obra. Esse é precisamente o ponto mais forte! A obra que temos em mãos acaba por ser uma agradável mistura de intrigas e jogos de bastidores, sempre com o conflito do pagão Uthred com os beatos cristãos, com a dose certa de confrontos e que culmina com a muito aguardada grande batalha, para que então os adeptos mais tradicionalistas não se sintam defraudados.

 A narração é, como nos outros volumes, feita a partir das impressões de Uthred o que significa que o leitor vai tendo o desfiar das intrigas à medida que elas são reveladas ao personagem, ou à medida que o personagem as vai resolvendo. Sim, porque neste volume a idade começa a atingir Uthred, com ele a recordar alguns episódios marcantes e a perder um pouco a imagem de bruto que resolve todos os problemas com a espada.

 Death of Kings não representa a morte definitiva do autor, da série e muito menos da vontade dos leitores em lerem a sua conclusão , pelo contrário representa o início da sucessão de Alfred e com ela uma nova possibilidade para Cornwell empregar a sua pena a preencher os intervalos da História com batalhas apaixonantes e intrigas saídas de uma das mentes mais marcantes do panorama livresco actual.

Tuesday, March 20, 2012

Onde fica a Saída de Emergência?

Sendo comprador quase compulsivo de livros, o facto de residir no estrangeiro limita-me no que à aquisição de literatura em português diz respeito. No entanto, nas vésperas de me deslocar a Portugal para o período natalício, decidi fazer uma encomenda através do sítio da editora Saída de Emergência, uma vez que apresentavam um desconto de 40%, para lá da sua habitual promoção 3=2. 

Estávamos a 15 de Dezembro e contava com um pouco de sorte ter os livros pelo Natal, com algum azar, devido à época, contava trazê-los comigo quando, em meados de Janeiro, saísse de Portugal.

Por alturas da comemoração do primeiro mês da encomenda (13 de Janeiro), já fora do país, mas com viagem de regresso marcada para breve, o seguinte email foi enviado para webmaster@saidadeemergencia.com :
Tendo feito esta encomenda há aproximadamente um mês e nao tendo até ao momento recebido qualquer informaçao, ou volume, gostaria de saber o estado da encomenda e, caso tenha já sido expedida, quando o foi.
Agradecido.
(Erros de acentuação patrocinados por um teclado estrangeiro e um sistema que não reconhece o código ASCII para o referido caracter.)

Não me ocorre hoje porque escrevi para este email, mas uns dias mais tarde (18 de Janeiro) um comentário de um amigo deu-me a ideia de comentar a situação no mural do facebook da editora. Deixei um comentário e menos de 24 horas depois recebo a recomendação, por parte da editora, de entrar em contacto com eles através do email geral@saidadeemergencia.com . Acto contínuo, reencaminhei o anterior email e aguardei. Afinal, tirando o eclipse do webmaster a comunicação não parecia estar assim tão afectada.

A verdade é que algum salteador cibernético deve ter ficado com o email pois no dia 4 de Fevereiro, quando cheguei a Portugal, nem resposta nem livros. Por esta altura já começava a estar um bocado sensível à questão e o email que abaixo se transcreve dá para perceber isso mesmo.

Venho uma vez mais, após as comunicações que seguem abaixo, e tendo já passado quase dois meses desde que efectuei a encomenda, perguntar se vale a pena estar à espera que chegue a encomenda.

Atenciosamente,
(o meu nome)
Saí de Portugal dia 7 de Fevereiro da forma como entrei: sem resposta, sem livros e a desenvolver rapidamente anticorpos a esta editora. Como que adivinhando o meu estado (eu gosto de pensar que foi por isso), decidiram-se finalmente a dar resposta aos meus emails (até ao momento quatro) no dia 8 de Fevereiro.
Caro (o meu nome),
Foi-nos informado pela nossa colega Safaa, que existe uma encomenda sua que ainda não chegou a si,
Não sei porque razão, mas nenhum dos seus e-mails chegou à minha caixa de correio, no entanto estou ao seu dispor para resolvermos todos os problemas e compensá-lo pelo incómodo causado.
Entendo que a sua encomenda é nº ****** e que continua interessado na mesma certo?
A sua encomenda é composta por:
(tabela com a encomenda)
Gostaríamos de compensá-lo e enviar-lhe uma oferta de um livro à sua escolha
Atentamente
Marta Lima
"Eh pá! Finalmente uma resposta e ainda por cima querem-me compensar!" Pensei eu. Uma vez que não parecia haver limites ao livro à minha escolha achei por bem acautelar-me e respondi, no dia 9 de Fevereiro, da forma que segue abaixo:
Confesso que é agradável ter notícias. Sim, o interesse mantém-se. O livro à escolha seria um qualquer?

Cumprimentos,
(o meu nome)
Neste ponto, quem conseguiu acompanhar a saga até aqui já se deve estar a rir do facto de eu responder em tom de pergunta. Na altura a felicidade era tanta que eu devo ter esquecido por instantes o facto de que tudo o que envolve respostas pela parte da editora ser lento e demorado.

Saltemos para o contacto seguinte. 27 de Fevereiro (tempo desde o último contacto: 18 dias; tempo desde a encomenda: dois meses e 12 dias). Remetente: eu mesmo, destinatário: marta@saidadeemergencia.com .
Boa tarde,

Gostaria de saber novidades sobre a troca de emails que segue abaixo, um vez que passaram já sensivelmente duas semanas e meia e nao recebi nenhuma resposta ao meu contacto.
Sem mais de momento,
(o meu nome)
A resposta chegou no próprio dia e lia:
Caro (o meu nome)
Indique-nos então o livro que gostaria de receber, será o que desejar.
Atentamente
Marta Lima
Esclarecido, respondi no dia seguinte de forma curta:
Poderá entao ser o (título do livro) de (nome do autor). 
Este foi o último contacto que tive com a editora. Na semana passada fiz uma encomenda de livros através de um serviço de vendas sediado no Reino Unido. A ocasião lembrou-me que tinha algo pendurado e até calhava bem porque 15 de Março representa exactamente três meses desde que a encomenda foi feita. Na minha área de utilizador a encomenda está como enviada. Os mais atentos notam como o verbo enviar e receber se referem a dois actos distintos. Por esta altura eu próprio começo a notar essas diferenças...

 A título de curiosidade, a encomenda do serviço baseado no Reino Unido (sete livros) foi expedida na sexta-feira (24 horas após a encomenda) e chegou hoje, terça-feira (5 dias, com um fim-de-semana de permeio) a minha casa.