Thursday, August 9, 2012

O Bom Demónio - Nikos Kazantzakis



O título O Bom Demónio dirá muito pouco ao público em geral. No entanto, o nome da personagem principal depressa fará soar alarmes de reconhecimento. O nome: Alexis Zorba. Esse mesmo, a figura que ficou imortalizada por Anthony Quinn no filme Zorba, o Grego, é a figura a que o título desta obra se refere.

No momento em que fechei este livro, tudo o que ele narra faz sentido de uma forma estranha. Estranho porque creio que dificilmente o livro apelaria aos meus sentido se o país onde me encontro não tivesse dias de Verão com temperaturas bem abaixo dos vinte graus, onde a chuva e o vento são as únicas incógnitas sob as nuvens, onde a comida não tem sabor e o trabalho é encarado como a redentora cura de todos os males. Se não me encontrasse rodeado dessa filosofia do viver para trabalhar, o livro dificilmente faria sentido.

Pensando melhor, o livro faz sentido talvez um pouco por todo o lado, muito dado ao momento em que vivemos, e será difícil não olhar para ele como literatura subversiva de todos os valores que nos têm sido papagueados nos últimos anos.

Não é que a obra não incida sobre a amizade entre o narrador e Zorba, essa amizade tão bem passada para a tela por Alan Bates e Quinn, mas o livro é mais, muito mais! Fazendo uso das ferramentas ao seu dispor, Kazantzakis recorre ao seu eu literário para nos contar o que foi para ele crescer e conhecer o verdadeiro Zorba. Com frases simples e facilmente acessíveis, Kazantzakis torna todo o livro um tratado de Filosofia, onde o discípulo vai confrontando o mestre. Confronto é a palavra chave do livro, tal a frequência e tais as formas que este toma. Ele é o saber teórico contra o empírico, os livros do narrador contra a vida de Zorba. Ele é a juventude contra a idade, os sonhos contra a realidade, o mudar o mundo contra o ter sido mudado, a ilusão contra a prudência, a inocência contra a matreirice. Zorba não é um personagem qualquer, ele podia ter sido o nosso pai. Zorba é um pai para o narrador, é a figura paternal que o ajuda a passar da adolescência para a idade adulta.

Uma leitura de O Bom Demónio à luz do momento que vivemos não deixará de notar como esta obra transpira todo um ar de trabalhar para viver. Zorba surge como um farol de alegria, mesmo nos momentos maus Zorba aparece como o homem que aprendeu a dar a volta e encarar sempre pela positiva. Zorba é a figura que nos diz que por muito que a escola nos ensine, nunca saberemos nada enquanto não nos fizermos à estrada, enquanto não cairmos e nos levantarmos. Num momento em que figuras engravatadas, mas ainda de fraldas, nos dizem que o nosso fim é morrermos a trabalhar para eles, este livro é um hino à rebelião e portanto uma leitura indispensável.

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