A primeira coisa que me apraz dizer sobre este livro é que é um livro antitético: uma leitura leve muito pesada.
Para um livro que representou uma pedrada no charco na forma como se interpreta a evolução da ciência, lê-lo passados 50 anos não tem o mesmo sentimento de revelação. Em grande parte porque o que ele contém foi interiorizado em sucessivas gerações de cientistas e aspirantes a tal. Não há, para quem tenha tido um ensino científico, um sentimento de ruptura, antes de se rever no que ele descreve. Provavelmente porque sempre foi assim e ele se limitou a constatar o que via.
A leitura do livro pede no entanto, para ser mais dinâmica, que se tenha algum conhecimento científico, nomeadamente ao nível da física, isto porque Kuhn, antes de ser um historiador era um cientista. Essa dupla formação deu-lhe certamente uma vantagem que outros seus contemporâneos não tinham e ajudaram a que ele conseguisse o tal sentimento de criar uma empatia com quem tenha passado pelos labirintos da ciência.
Que o livro tenha perdido o seu tom de nova teoria, sendo absorvido por todos e tornando-se no paradigma da evolução científica, perdendo com essa cristalização o seu carácter refrescante é provavelmente o maior triunfo da obra. Pena que com isso tenha de se remeter para a categoria da curiosidade histórica.
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