Monday, August 9, 2010

I am Legend, Richard Matheson



A definição de ficção científica é algo que não se encontra bem estabelecida. No entanto, seja qual for a definição, se não permitir a inclusão de I am Legend, de Richard Matheson, será uma definição incompleta/insuficiente.

Pode parecer um exagero mas só para quem nunca leu a obra. Aliás, de tão genial e inovadora que a obra é, qualquer comparação com o filme de 2007 (com Will Smith no principal papel) corre o risco de não começar a fazer sequer juz à obra. O filme deveria ser considerado não uma adaptação, mas um insulto!

Em I am Legend, Matheson dá-nos a conhecer Robert Neville, o último representante de uma humanidade transformada em mortos-vivos. Inicialmente somos levados através das suas rotinas diárias, apesar de a escrita nunca se tornar aborrecida e repetitiva, sendo-nos apresentadas as rotinas com que ele combate a solidão e as formas como lida com a companhia das criaturas que ele baptizou de vampiros. É então que entra em cena o método científico e a procura de Robert por ir à raíz do vampirismo.

Praticamente em toda a obra seremos levados pelo processo de descoberta do Bacillus vampirii, o agente infeccioso que levou a mulher e a filha de Robert, uma boa parte da população e que Robert elege como seu adversário principal. Entretanto a sobrevivência do mais apto entra em cena e Robert trava conhecimento com Ruth, uma sobrevivente da infecção que pertence a uma nova sociedade, uma sociedade que tem uma forma peculiar de olhar para Robert, a sua existência e o seu lugar na História.

Numa altura em que os vampiros são criaturas fofinhas e de levar para casa como forma de entretenimento leviano, I am Legend (re)surge como uma refrescante lufada de ar fresco e uma nova luz no mito do vampiro. Publicado pela primeira vez em 1954, será porventura uma das obras mais influentes no meio cultural desde essa altura. Não só Stephen King considera Matheson uma das fontes de inspiração, como após é impossível dissociar filmes como a Saga dos Mortos de Romero, ou 28 Dias/Semanas de Danny Boyle, desta obra. Matheson, ao escrever um livro de ficção científica no seu estado mais puro, acabou por fundar reconverter o género do terror, introduzindo a figura do zombie. Pois os vampiros de Matheson são aquilo que hoje em dia se chamaria de zombies! A evolução do Conde de Bram Stoker à luz do que a ciência da década de 50 nos dizia ser o funcionamento do corpo humano, conduziram a esse corpo animado por uma bactéria.

A obra de Matheson é no entanto algo mais que uma simples, rápida e agradável leitura. Mais do que entretenimento, Matheson serve-nos um banquete de questões existenciais (ou pseudo-existenciais, mas questões à mesma!). Assim o B. vampirii é desculpa para uma reflexão sobre a sanidade e a humanidade de uma existência solitária, para o instinto de sobrevivência quando tudo nos diz para desistir e acima de tudo para o que é ser normal num mundo em permanente mudança, pois na realidade a obra mais que não é do que a viagem de Robert da sua humanidade até ao momento em que, introspectivamente ele chega à conclusão que mais não é do que o produto de lendas do passado.

1 comment:

  1. Também adorei esta obra. Acho que o filme tem finais alternativos, pois os primeiros (os melhores) não foram considerados "apropriados" para um filme de massas. De qualquer forma, concordo que seja insultuoso para o livro considerarem que o filme se baseou nele.
    Realmente, a descrição destes vampiros torna-se refrescante perante o actual contexto de vampiros "rapazes-mais-sexy-do-bairro".
    Parabéns pelo blog!

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