Sunday, December 25, 2011

Roger Waters, The Wall - Arnhem, 8 de Abril

 O álbum The Wall é um dos meus preferidos. Arriscaria mesmo dizer que não é um álbum, é o álbum. Toda a história que Roger Waters criou pode ser lida à luz de várias interpretações. Soube desta tour ao ler a crítica do concerto de Lisboa e rapidamente procurei as datas na Holanda e, face às três possibilidades, marquei bilhete para a primeira noite de espectáculos.

 A organização holandesa foi exemplar e o facto de começar a minha apreciação por esse ponto deve-se ao facto de não estar habituado a comboios especiais fora de horas e a autocarros para levarem as pessoas de e para o local do concerto. No caso o Gelredome, estádio do Vitesse.

 Quanto ao concerto propriamente dito, consistiu no desfilar das músicas do álbum, acompanhadas de um alucinante espectáculo cénico, desde filmes vários à épica construção do muro que dá o nome ao espectáculo, cuja simbologia se transpõe para a segunda parte do espectáculo, em que a banda e o artista se encontram barrados do público por ele.

 Roger Waters começa a acusar um pouco a idade e faltou, nos instante iniciais, alguma energia que foi aparecendo com o decorrer do espectáculo.

 No cômputo geral a noite foi muito satisfatória e demonstrou que algumas obras não estão destinadas a ficarem presas na época em que são feitas. Na plateia misturavam-se a geração dos 70 com os filhos e, acredito que, alguns netos!



Friday, December 16, 2011

On The Road - Concertos de 2011

 Neste espaço dedico-me muito aos livros que leio, um pouco aos filmes que vejo e quase nada à música de oiço. Com o aproximar do fim do ano, quando todos começam a fazer listas de melhores do ano e afins, comecei a pensar quais os melhores concertos em que estive.

 É difícil dizer que um concerto me tenha marcado pela negativa. Sou um adepto da música consumida ao vivo e  apenas lamento que as bandas de que gosto não actuem mais pelas minhas paragens. 2011 no entanto foi um bom ano! Claro que tive de me fazer ao ar e à estrada e esse é o ponto positivo de 2011. O facto de ter podido fazer o que não está ao alcance de muitos: viajar e ir a concertos.

 Arnhem, Amsterdão, Lisboa, Amsterdão, Zoetermeer, Almada, Copenhaga e novamente Amsterdão foram as paragens de um circuito que contou com rock, metal, jazz e blues. Nos próximos tempos vou tentar fazer um apanhado do que cada concerto foi individualmente, tentar trazer ao de cima o que me ficou de cada concerto. Até lá deixo abaixo alguns excertos retirados da net.















Tuesday, December 6, 2011

Citando Lobo Antunes I

"(...) a prova que o meu pai é idêntico a nós é que se viesse dos pobres não o operavam, tratavam-no num cubículo sem repararem nele e o meu pai cercado de besouros
 -Gosta de viver assim pai?
a desamarrotar-se amarrotando-se mais
-Bem hajam meninas"

Monday, November 28, 2011

2011 - Iced Earth - Dystopia


 Os Iced Earth nem figuram na minha lista de bandas preferidas. Falta-lhes um certo virtuosismo que compensam com atitude. Claro que um adepto de música punk a falar de virtuosismo corre o risco de passar por cínico. A diferença é que em Iced Earth falta uma certa velocidade característica da música punk.

 Este novo álbum, com novo vocalista (desde 2002 que andam em busca de cordas vocais à altura) traz-nos um pouco mais do mesmo estilo de acordes secos e pesados alternados com baladas, tudo servido em velocidade degustativa. A voz do novo vocalista alterna momentos em que nos lembra porque gostamos de ouvir Iced Earth (Days of Rage poderia  perfeitamente pertencer à Dark Saga), com outros em que claramente estamos a ouvir outra coisa qualquer (End of Innocence). Já Boiling Point entra para a galeria dos momentos altos do disco, soando vagamente a Demons and Wizards. V passa por uma aceitável música de Iron Maiden (com um ataque de laringite).

 Talvez este Dystopia precise um pouco mais de tempo para amadurecer, ou talvez se safe melhor ao vivo, no final as faixas que mais se destacam acabam por ser as de bónus. Os habitués gostarão, mas não será álbum para conquistar novos adeptos.

Sunday, November 20, 2011

Vollüspa - antologia de contos do fantástico! (editor Roberto Mendes)

 Há autores que se notabilizaram por escreverem contos. Textos concisos em que o ênfase se coloca nuns aspectos e se deixam os restantes ao cuidado da imaginação do leitor. Compilem-se uns textos num só volume e inevitavelmente salta à vista que uns apelam mais ao leitor do que outros. Uns falam com partes de nós que não sabíamos ter, outros passam por nós como se não os tivessemos lido. Uns são paredes brancas, outros quadros impressionistas, com tantas manchas que formam uma imagem. Multiplique-se o número de autores e o concurso passa a ser entre estilos de escrita pessoais.

 Vollüspa, a aguardada antologia a cargo de Roberto Mendes, pretende assumir-se como meio de divulgação para novos autores no campo da Ficção Científica (FC) e do Fantástico (F). Estes rótulos são bonitos e servem para arrumar livros na prateleiras das livrarias, mas pessoalmente prefiro rótulos que vão de "bem escrito" a "desperdício de papel". Enquanto mistura de autores, Vollüspa consegue colocar contos em todo esse leque de rótulos.

 Escrevendo enquanto desconhecedor do género (tenho umas noções de Fantasia, que adquiri com Tolkien e Jordan, e de FC, que fui buscar a coisa como Dick e Matheson), penso que Vollüspa se sai bem. Mais do que meio de divulgação de autores, assume-se como uma interessante porta de entrada para novos autores.

 Sai-se bem, mas não sem reparos! Por exemplo, a compartimentação dos contos em géneros. Existem três secções: Ficção Científica, Terror e Fantasia. Na minha opinião há contos de FC que cabiam em Fantasia ("Pequeno guia do Céu, de Tristan Sapincourt", de Afonso Cruz e "Eternidade" de João Ventura) e vice-versa ("Uma questão de lugar" de Pedro Ventura). Quanto à secção de Terror, a única coisa de realmente aterrorizante é a forma como os textos se prolongam sem chegarem a lugar algum. Talvez "Enquanto Dormias", de Nuno Gonçalo Poças, pudesse ter lugar na secção de Fantasia, livrando-se das expectativas que o rótulo Terror coloca. Volto a frisar neste ponto que estou longe de ser um especialista de taxonomia literária.

 Onde sou especialista é em coisas que me arrepiam os cabelos da nuca e nesse capítulo o prémio "desperdício de papel" vai inteirinho e em exclusivo para Carla Ribeiro. Os diálogos mais forçadamente artificiais de toda a antologia e um uso e abuso de frases iniciadas por "E" (de todos os usos apenas um - um - não me causou arrepios na espinha) fizeram com que a leitura deste conto roçasse a vontade de não acabar de o ler e passar ao seguinte. Quanto ao uso do "E" para começar frases, há formas de o fazer, há ocasiões em que traz maior expressividade ao texto. A forma como Carla Ribeiro o faz indiscriminadamente demonstra que não domina essa técnica. Caso queira aprender, leia um bocadinho mais de jornais (recordo-me assim vagamente que entre o editorial e as colunas de opinião do DN de dia 17 de Novembro há variados bons exemplos) ou leia os contos "A Máquina" (Álvaro de Sousa Holstein) ou "Genesis-Apocalipse" (Roberto Mendes) desta mesma colectânea.

 A culpa, no extremo, até pode não ser da autora. A preocupação de escrever com a frase curta, tão típica da literatura anglófona, pode estar na origem. Essa preocupação também é visível nos contos de Afonso Cruz, Roberto Mendes ou Joel Puga, mas nestes casos sem que a minha sensibilidade de leitor saia afectada.

 Ao nível de outros contos, "Vermelho" (Regina Catarino) está muito bem escolhido como conto de encerramento para a colectânea. Uma ideia de tremenda simplicidade, executada de igual forma e que deixa no leitor uma sensação de uau. Ao nível de trabalho editorial, de resto, apenas duas notas: o conto de Afonso Cruz pode ser muito bem executado, mas requer uma segunda leitura. Para conto de abertura fica um bocado pesado e penso que o próprio conto ganhava em estar enquadrado por contos do gabarito dos de Luís Filipe Silva ("A queda de Roma, antes da telenovela") e João Ventura ("Eternidade"), duas das mais fortes entradas da colectânea. A separação destes dois teria um efeito benéfico nas restantes entradas, trazendo maior homogeneidade ao nível dos contos. Porque estes podem fazer os outros empalidecer! Nos outros contos, é bem visível a linha que vai d' "A Máquina" (Álvaro Sousa Holstein) até a "A Sala" (Marcelina Gama Leandro). A semelhança de temática e cenário é tal, que podemos perfeitamente imaginar  a máquina dentro da sala! Sai por cima, quando comparados, o sentimento de folia da divisão contra o saudosismo vagaroso do objecto.

 Os contos que mais me encheram as medidas estão quase a abir e quase a fechar. Contos muito díspares na temática e na forma, mas igualmente satisfatórios na forma como me realizaram enquanto leitor. "Natal®" (Carlos Silva) é um conto curto que nos traz a época festiva num futuro (talvez não muito) distante e simultaneamente uma reflexão sobre a condição humana e penso que até o mais sorumbático dos leitores esboçará um sorriso com o final. Já "Uma questão de lugar" (Pedro Ventura) arrasta-se sem que o leitor se sinta aborrecido, desenvolve as personagens num curto espaço, conta-nos uma história e a páginas tantas o leitor esquece-se que está a ler um conto. Mesmo o final, que pode ser um pouco abrupto para alguns, não parece caído do céu. Pedro Ventura pega no leitor ao colo e leva-o por uma agradável experiência de leitura. 

 No global Vollüspa sai-se bem como uma porta para a literatura de género que parece querer recuperar algum espaço em Portugal, com um leque variado de autores e com alguns toques de qualidade de escrita misturados com a maturidade de quem sabe que escrever não é apenas por palavras umas a seguir às outras.


PRÉMIOS:

"Vale a pena ter a Vollüspa só para ler isto":
-"O Pequeno Guia do Céu, de Tristan Sapincourt", Afonso Cruz
-"Natal®", Carlos Silva
-"Uma questão de lugar", Pedro Ventura
-"Vermelho", Regina Catarino

"Valor Seguro":
-"Eternidade", João Ventura
-"A Queda de Roma, antes da Telenovela", Luís Filipe Silva
-"A Sala", Marcelina Gama Leandro

"Preciso de Curar Insónias":
-"O Acorde das Almas", Carina Portugal
-"Enquanto Dormias", Nuno Gonçalo Poças
-"A Máquina", Álvaro Sousa Holstein

"Desperdício de Papel":
-"A Queda", Carla Ribeiro

Wednesday, October 26, 2011

5OHKUBO - Almadacore

 Os 5OhKubo, banda fundadora do Almadacore, música veloz e positiva, venceram o 7 º Concurso de Música Moderna da Câmara Municipal de Almada. Ficam abaixo o clip homónimo e o clip disponibilizado pela CMA, porque o link para o MySpace está ali ao lado desde que a página abriu.


Friday, October 14, 2011

The Legend of Sigurd and Gudrún - J.R.R. Tolkien (editado por Christopher Tolkien)



Ao olharmos a vida e obra de John Ronald Reuel Tolkien, notável filólogo inglês, rapidamente percebemos que para ele a sua ciência implicava algo mais do que estudo, implicava produção, implicava adaptação. Essa sua vontade de produzir, de reinventar, tem permitido que muitos anos após a sua morte ainda nos sejam disponibilizados pelos seus herdeiros, escritos completos ou inacabados, com notas e correspondência do autor, que nos ajudam a decifrar melhor o homem, o autor e o estudioso.

Tolkien nunca negou o fascínio que os mitos e lendas nórdicas exerciam sobre ele, considerando o sucesso da sua obra O Senhor dos Anéis algo surpreendente, por se tratar de uma adaptação do mito do anel dos Nibelungos. Todo esse fascínio revela-se noutros pontos da sua obra, quer literária, quer académica.

Como estudioso que não sou, arrisco dizer que The Legend of Sigurd and Gudrún será uma obra que lhe dá alguma paz de espírito e que simultaneamente constitui um elogio a todos os skaldene que alguma vez abriram a boca. No entanto, como exercício fundamentalmente académico, não será um livro facilmente apreciado por quem não se interessa pelo tema de mitos e lendas nórdicas.

A apreciação da obra sobre ainda outro revés para quem desconhece a poesia nórdica. Pessoalmente estou longe de ser um conhecedor. Conheço alguns versos da Edda, em norueguês moderno, e trechos de sagas em dinamarquês. Não é um conhecimento profundo, mas o suficiente para perceber como embalam as palavras a fala do leitor, perceber qual a melodia que transpira, perceber como soa aquela poesia em redor de uma mesa, com o início de um estupor alcoólico, em noites de neve e gelo. Nesse aspecto a obra de Tolkien está muito bem conseguida. Não constitui uma tradução, antes uma adaptação a inglês. Não soa a um exercício forçado antes uma nova forma de ver, soa a algo que já conhecemos, mas que nos chega sob uma nova luz. Há ali uma sonoridade, um transmitir de sentimentos por parte das personagens que nos transportam para a cena descrita, como em tempos vozes vibrantes transportaram gentes geladas.

Enquanto leigo arrisco dizer que o livro será indispensável para académicos, um bom ponto de partida para curiosos, mas uma obra de sofrimento para quem não tem o mínimo interesse por mitos e lendas nórdicas. Incorre mesmo no risco de transmitir uma ideia errada do que é Tolkien.

Sunday, October 9, 2011

A Criada Zerlina - Hermann Broch



Uma das principais atracções do Festival de Teatro de Almada em 2009, A Criada Zerlina chegou-me através da Biblioteca de Verão do DN/JN em 2010. Esta obra, que sofre da mesma falta de cuidado na revisão das restantes da colecção, corresponde a uma boa leitura de Verão. É séria, sem ser maçuda; profunda, sem ser pesada e lê-se de uma penada, possibilitando leituras e releituras.

Quem é então a criada Zerlina? Zerlina é uma criada de família, que começou a trabalhar para a avó da sua actual empregadora. Como alguém que toda a vida trabalhou numa casa, conhece as histórias que se mostram e os seus bastidores e são esses bastidores que, numa tarde de Domingo, Zerlina partilha com A., hóspede na "sua" casa.

Essa narrativa leva-nos a conhecer melhor as próprias origens de Zerlina, através de um interessante exercício sobre a juventude pelos olhos de um veterano. Um belo exercício essencialmente sobre a memória, sobre lições de vida e amores de infância e de como nos moldam a idade adulta.

A escrita é claramente para teatro, havendo bastante voz activa e um foco que incide sobre as personagens em cena.

A criada Zerlina, não sendo um livro de fazer cair os queixos, consegue esboçar vários sorrisos e, ao virar a última folha, uma sensação de "deixa ler outra vez". Um livro, no fundo, para ser lido e relido.

Friday, October 7, 2011

Tomas Tranströmer - Prémio Nobel da Literatura 2011

Desconhecia por completo esta autor sueco, que até cantou o bairro de Alfama no seu poema Lissabon.
Aparentemente é impossível encontrar a obra do mesmo em português. Como desconheço boas lojas online suecas, quem me arranja uns livrinhos em sueco?

De resto, falta-me conhecer quem na imprensa portuguesa consiga fazer um apanhado de antigos laureados ao nível do que li no The Guardian. (Aqui segue o link: Nobel prize for literature: Tomas Tranströmer joins a strange gang )

Para finalizar, um poema lido pelo próprio, divulgado pelo Bibliotecário de Babel.

Friday, September 16, 2011

Um Grito contra o preconceito.

Quem me conhece sabe como tenho uma aversão de morte a rótulos na arte. Há quem os use para provocar, quem os use para arrumar coisas em estantes e, pela mesma ordem de ideias, quem os use para se recusar a olhar sequer para eles.

O Queer Lisboa tem tudo o que é preciso para que uns olhem a salivar, outros se recusem a olhar e outros vejam nele a sua ilha de identidade. A minha opinião é que eventos como este podem ser úteis se devidamente conduzidos e com escolhas acertadas.

Tomei agora conhecimento que irá passar hoje, no âmbito deste festival o filme Howl, de Rob Friedman e Jeffrey Friedman.

O filme é um filme sobre muita coisa. Sobre poesia, sobre liberdade de expressão, sobre amor, sobre delisão, sobre viagens, sobre sentimentos e acontece que se foca num poema cujo autor era homossexual. A expressão dessa homossexualidade é um adereço no filme e nem isso no poema. Muito como se deseja que a encaremos e nessa óptica este deveria ser o filme do Queer. Uma escolha mais do que acertada.

Portanto, hoje à noite deixe o preconceito de lado e ponha-se a caminho do S.Jorge. Vai ver que os gritos de revolta que vai dar serão por o filme não passar fora do festival, como um filme dito normal.

Sunday, September 11, 2011

Punk Rock PhD.

 Descobri tarde Bad Religion. A minha primeira experiência até nem foi muito agradável. No entanto na minha fase adulta tenho voltado várias vezes ao seu material e admirado a escrita. O que mais me surpreendeu na banda foi o descobrir que o seu vocalista não só tem um doutoramento, como ainda é professor universitário. 

 Recentemente adquiri mesmo um livro seu, do qual pretendo falar, e descobri o trecho que transcrevo abaixo. O original pode ser encontrado no site da Scientific American.

 Segue então o artigo.

Was Darwin a Punk? A Q&A with Punker-Paleontologist Greg Graffin
The evolutionary biologist and lead singer for the punk rock band Bad Religion explains why there are no good songs about science and how evolution can be a guide to life
 | September 28, 2010 | 7
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greg-graffinPUNK PALEONTOLOGIST: The lead singer of punk rock band Bad Religion, Greg Graffin, doubles as a lecturer in evolutionary biology at U.C.L.A.Image: © MICHAEL KAPPELER/Getty ImagesEditor's Note: This is an expanded version of the Q&A that will appear in the November 2010 issue of Scientific American.
Name: Greg Graffin
Title: Lead singer for the punk rock band Bad Religion; Lecturer in life sciences and paleontology at U.C.L.A.
Location: Ithaca, N.Y., and Los Angeles
How are evolution and punk rock related?The idea with both is that you challenge authority, you challenge the dogma. It's a process of collective discovery. It's debate, it's experimentation, and it's verification of claims that might be false.
In your new book Anarchy Evolution: Faith, Science and Bad Religion in a World without God you talk about the "anarchic exuberance of life." What do you mean by that?The trick is: how do you talk about natural selection without implying the rigidity of law? We use it as almost an active participant, almost like a god. In fact, you could substitute the word "god" for "natural selection" in a lot of evolutionary writings and you'd think you were listening to a theologian. It's a routine we know doesn't exist but we teach it anyway: Genetic mutation and some active force chooses the most favorable one. That simply isn't a complete explanation of what's going on. We need to stop thinking about lawlike behaviors and embrace the surprises.
Was Darwin a punk?He was very straight-laced because of English Victorian culture, but he sure did like to hobnob with the radicals. There are punk fans who kind of stand in the back and never in their lives go slam dancing but love the music and what it represents. Darwin may have been that kind of contemplative and pensive anti-authoritarian.
Are there any good songs about science?No, I don't know of a single one. Most songwriters who have been lucky enough to have their song on the radio or be heard widely don't know anything about science. The best songs have a strong dose of metaphor. Most songs about science don't have that. Like "She Blinded Me With Science". It's a stupid song, no offense to Thomas Dolby.
How can evolution be a guide to life?When you win the lottery no one's asking you to justify it. If you have a tragedy, everyone wants to know why. Everybody wants you to justify it. The way you do that, the story or narrative you tell, is your worldview. The fossil record gives me a great deal of comfort in difficult times. It helps me recognize that this current drama going on on the planet is one of a series of episodes. Ultimately, life goes on even after a catastrophe. That gives me comfort. Don't ask me why.
Why write this book now?Evolution plays an important role in who I am as a person. I recognize that there's an audience for me, and I have this desire to write about science and try to make it appeal to a large audience. A book was a natural thing for me to attempt, though I wasn't sure how it was going to be achieved. I've written almost 200 songs with Bad Religion. No matter where you look in our history, the focus has been trying to instill some of these disturbing realities about the world, some of the implications of evolution into an artistic format that can be interpreted by people who may never study evolution.
That's a goal of mine: to get people who may have the motivation or interest in science to recognize the different facts about their natural world. It's a mission towards enlightenment.
How are evolution and punk rock related?It's a similar feeling from being in a community of punk rockers as a teenager and the feeling I still get today when I'm in a community of skeptical scientists. The idea with both is that you challenge authority, you challenge the dogma. You challenge the doctrine in order to make progress.
The thrill of science is the process. It's a social process. It's a process of collective discovery. It's debate, it's experimentation and it's verification of claims that might be false. It's the greatest foundation for a society.
You describe evolution as a "waterfall." What do you mean by that?I live in upstate New York and we have a lot of waterfalls. I do a lot of amateur photography. You can go back to the same point and take the same picture of a waterfall but it's a different day and the damn thing never looks the same. That's because it's a continually moving process. It's not only climate and how much rain fell the night before, it's also vegetation, and there's geographical factors like how much mud or gravel or stones are in the streambed. There are so many causative factors involved that it makes it difficult to capture the same image twice.
It's a constantly changing system. All life is the same. We have the same problem when we try to encapsulate life. We have [gotten] so much good resolution from the fossil record in the past 50 years. We can take snapshots now. We can look at life in frames of time going back at least to the Precambrian. A lot of [ancient] biological communities do the same thing in terms of nutrient cycling, biodiversity and biomass as modern communities. And yet the picture looks vastly different.
Einstein said, "To punish me for my contempt for authority, fate made me an authority myself." Isn't science just another form of authority?That encapsulates the struggle so nicely: How do you subscribe to an authority without becoming authoritarian? There is nothing wrong with being the right kind of authority. Someone who is willing to throw it all away at the drop of a hat—even if it means discarding his or her life's work—because a new discovery was made. That is the best kind of authority. The worst kind of authority is an ill-informed autocrat like Josef Stalin.
There are numerous scientists who fit that bill but hardly any political leaders.
Obviously, you are pro-evolution and pro-nature, but are you anti-technology? Your most famous song is "21st Century Digital Boy," which pokes fun at our gadget-laden era.Oh no, we love technology and gadgets. We use irony in 60 percent of our music. "21st Century Digital Boy" is an ironic twist characterizing the youth of today. The truth is that even though the song was written in 1990, it was clear that the youth were going to be affected for good and bad by digital technology. It's probably because we loved video games so much.
What do you make of synthetic biology? Will we have 22nd-century bio-boys?The greatest gifts of the genetic revolution are the applications for industry. The types of things we can do with manipulating genes, inserting them into cells. That's just the beginning, I think. Theoretically, the guys who are really good at programming video games, who are already writing code all day, could be creating organisms in the future. It could be a whole family of code writers. "Dad worked for EA Games, but I work for Genentech." This is something that is conceivable, it's an exciting time.
Anything that's fraught with as much danger as potential for good makes for an exciting time. That stuff is dangerous as well.
There's so much on the horizon with therapeutic treatments. The genetic revolution has been pretty much a bust but it's still early in the game. There are not a lot of gene therapies out there. We're just starting to get a grip on the genome itself and how much of it is viral, for instance. We have to temper our expectations but at the same time dream big.

Monday, August 29, 2011

O Último Catão, Matilde Asensi




 Tendo à disposição todas as peças de lego do mundo, é possível construir réplicas à escala de grandes obras arquitectónicas. No extremo, tendo infinitas peças, poderíamos reconstruí-las à escala. Outra alternativa seria recorrer a peças de lego como forma de projectar edifícios. Todas estas premissas partem do pressuposto que as peças se encaixam de forma correcta. A forma como se encaixam depende em grande parte da arte e da paciência do autor.


 O Último Catão, da escritora e jornalista espanhola Matilde Asensi, pode ser entendido como um monte onde estão todas as peças para fazer uma obra interessante, mas que não passa disso mesmo: um monte de peças sem forma.Senão vejamos: os fragmentos da Vera Cruz estão a desaparecer, com o mais recente a ser encontrado junto ao cadáver de um etíope que apresenta estranhas marcas no corpo. Para investigar essas marcas o Vaticano chama a sua mais reputada paleógrafa, responsável pelo Arquivo Secreto do mesmo estado. Com ela o chefe da Guarda Suíça e um arqueólogo egípcio, cuja função para a história é no mínimo de relevância dúbia. A acompanhá-los está sempre uma cópia da Divina Comédia que aqui assume carácter de código para as provas iniciáticas de uma seita de adoradores da Cruz, os staurofílakes.Claro que boas ideias estão longe de boa concretização. A freira parece sofrer de bipolarismo (e não daquele que enriquece uma obra) e é tão desconhecedora do mundo em seu redor que nenhum leitor com mais de, vá lá, oito anos acreditará tratar-se não só de uma pessoa real, como ainda por cima alguém galardoado com prémios internacionais pelos seus trabalhos paleográficos. Para isso muito contribuiem as descrições bastante adjectivadas, com algumas passagens a rivalizarem com edições de renome como a famosa colecção Harlequim (arriscaria dizer que estas poderiam parecer Camões por comparação, mas penso que estaria a exagerar...). Os diálogos são do mais forçado que já tive hipótese de ler, metidos quase a martelo na obra, o que se reflecte na sua qualidade. Onde alguns autores usam os diálogos para reforçar e dar camadas aos personagens, nesta obra os diálogos servem para terraplanarem e retirarem dimensão aos mesmos. Levantando um pouco o véu, a prova em que tem de se percorrer pouco menos de quarenta quilómetros em nove horas provocou-me autênticos arrepios na espinha. Fazer qualquer comparação entre a referida prova e uma maratona é como comparar os passeios que dou ao domingo num parque com o que a Rosa Mota fez em Seul... E o arqueólogo? Se alguém perceber a função dele para resolver mistérios, sinta-se à vontade para o comunicar

 Resumindo: a forma como o livro está (mal) escrito faz com que as últimas páginas pareçam agradáveis. Não está no entanto excluída a hipótese de ser por se aproximar o fim do livro! De longe o pior livro que li em quatro anos.

Monday, July 11, 2011

The Man in the High Castle, Philip K. Dick


 The Man in the High Castle é um livro emblemático para mim. Não por ser daqueles livros que tenha mudado a minha vida, mas antes pelo sururu que uma das mais recentes traduções para português provocou e que me aproximou do mesquinho mundo da ficção científica em Portugal.

 Para quem tem mais que fazer, o resumo (com todos os defeitos inerentes a generalizações) é o seguinte: um bando de adultos a portarem-se como crianças para que sejam reconhecidos globalmente como adultos. Claro que as birras infantis não ajudam em nada ao reconhecimento e contribuem até para o estigma real que impele obras rotuladas como ficção científica para estantes demasiadamente próximas da literatura infantil. Apesar de haver pontos de contacto (leia-se: obras que se arrumam em ambas as prateleiras) tal comportamento é extremamente redutor e no caso desta obra leva até a uma tremenda injustiça.

 A verdade é que The Man in the High Castle, de Philip K. Dick ajuda a derrubar mitos e estereótipos através de uma escrita madura e apelativa combinada com uma trama inteligente.

 Passado numa realidade em que as potências do Eixo vencem a Segunda Guerra Mundial e dividem entre si (Alemanha e Japão) o mundo, o autor acompanha-nos à vivência de vários personagens interligados entre si, apesar de não o saberem e, em alguns casos, nem se conhecerem. Desde o vendedor de antiguidades ao alto funcionário comercial que vêem as suas crenças abaladas, à instrutora de judo e o seu perigoso amante italiano, todos estão interligados por esse livro da moda, The Grasshoper Lies Heavy, que narra uma realidade alternativa onde a Alemanha e o Japão foram derrotados.

 As personagens estão longe de ser lineares. Há uma miríade de personalidades de complexidade variável, mas também os meros figurantes. Os diálogos estão bem estruturados, com cenas magnetizantes (o jantar é delicioso) e há o omnipresente confronto cultural entre ocupante e ocupado e de como a cultura do vencedor se vai sobrepondo à do vencido.

 Há também um conflito de emoções humanas, enganos, várias situações em que se usa o próximo como ferramenta para um bem maior.

 Acima de tudo, The Man in the High Castle é um bom pedaço de literatura que merece ser lido e apreciado sem rótulos redutores, que mais não servem do que massajar uns quantos egos e (pseudo) ajudar a arrumar estantes.