Tuesday, January 5, 2010

The Picture of Dorian Gray, by Oscar Wilde



E se uma qualquer fotografia nossa... Não!

E se a nossa melhor fotografia, aquela que capta toda a essência da nossa juventude, na qual gostávamos de ser para sempre revistos, fosse um quadro da autoria de um pintor banal? Para além disso, e se esse quadro fosse o melhor trabalho desse mesmo pintor? Como bónus, e se esse quadro envelhecesse por nós? Melhor ainda, e se esse quadro carregasse todo o peso as nossas acções, à laia de consciência? E se pudéssemos ver a nossa alma?

Basil Hallward é um pintor mediano na Londres da segunda metade do século XIX, até ao dia em que conhece e se deixa fascinar por Dorian Gray, um jovem de beleza e inocências extremas. Basil produz então as suas melhores obras, entre as quais se conta a sua obra-prima, um retrato de Dorian Gray. A beleza e a perfeição com que Basil capta a essência de juventude e inocência de Dorian é tal, que, levado pelo manipulador Lord Henry, Dorian suspira como seria bom ele permanecer para sempre jovem e inocente e que o quadro pudesse envelhecer no seu lugar. Sem que Dorian se aperceba logo, o quadro começa a fazer algo mais do que envelhecer, torna-se a sua alma e a sua consciência.

Mas... Pode a arte ser reflexo da alma de alguém? É a arte algo mutável, ou será algo estático que tem de ser apreciada à luz do momento em que é produzida? Poderá uma qualquer paixão shakespeariana mudar com as oscilações passionais do intérprete? Onde reside a beleza da arte?

Oscar Wilde leva-nos, através das personagens de Dorian Gray e Lord Henry Wotton ao mundo dos dandies da Londres do final do século XIX, um mundo dominado por festas e relações de faz-de-conta e um profundo interesse superficial pelas artes e o filosofar.

Não se julgue no entanto que a esta é uma profunda viagem superficial! A viagem que Wilde faz ao mundo da Arte é uma viagem ao interior profundo da selva que é a definição da Arte em si. Sendo a Arte uma representação do real, que parte do Real se reflecte nela? Ou ainda, sendo a arte a visão de uma pessoa sobre o real, quanto do artista está representado no arte? E quanto do objecto artístico é absorvido pela sua representação?

Recorrendo a uma série de metáforas e comparações com a Antiguidade Clássica e descrições pormenorizadas das ambiências, sem se deixar cair na descrição das interacções dos personagens, Wilde transforma todo o conto num quadro em movimento, um recital de filosofar sobre a natureza da Arte e do Ser e do quanto cada um se toca.

À medida que caminha para o fim e esperamos respostas, estas ficam no ar, ao critério de quem aprecia a obra, pois a saída de cena Basil, o mediano pintor, retira da obra o olhar do artista, deixando-nos a braço com o egoísmo de Henry e a ausência de consciência de Dorian. O saber alto e iluminado dos salões do primeiro e o conhecimento empírico das profundezas do Inferno Humano do segundo, deixando sempre no ar que entre ambos há algo mais do simples atracção, como o indicia a casa de Tânger, à altura, conhecido refúgio de homossexuais.

O livro lê-se muito bem, mas não é um livro de respostas, é isso sim um livro de perguntas.

1 comment:

  1. Oscar Wilde e acho que isso já diz muito. Tenho aqui o filme 'Dorian Gray', adaptação do conto para cinema, vamos ver faz juz ao livro... Desconfio muito, até porque dificilmente se chega à essência das palavras de Wilde. Gostei muito de ler este teu canto na vasta World Wide Web.
    Bjs :)

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