Sunday, May 22, 2011

Crónica dos Bons Malandros, Mário Zambujal


 Há uma Lisboa feita de golpes, uma Lisboa de pequenos assaltantes que fazem pela vida, de linguagens secretas, de nomes de guerra. Há uma Lisboa dos malandros. Há tudo isso e seria fácil dizer que esta obra de Mário Zambujal é uma viagem a essa Lisboa. Só que isso não seria verdade!

 A Crónica dos Bons Malandros, que viu a luz do dia pela primeira vez em 1980, é um livro que procura dar razão a quem diz que os trinta são os novos vinte. A julgar pela frescura da escrita os trinta até podiam ser a nova adolescência. O livro encontra-se extraordinariamente bem escrito, facto que hoje em dia pode parecer surpreendente, mas não será tanto se considerarmos a experiência de escrita e comunicação do autor, jornalista de outros tempos, de outras escolas.

 A obra centra-se na história de uma quadrilha de pequenos assaltantes lisboetas, com uma alergia (justificada) a armas, à qual é proposto um assalto à Gulbenkian. Como modo de preparação para o desfecho dessa acção somos levados a conhecer a história dos autores de tão grandiosa empresa e que variado grupo esse é. Há quem tenha nascido com a malandragem no sangue, há quem se tenha visto obrigado a malandrar, há os que se calhar até tinham jeito para outras coisas e no final é impossível não sentirmos alguma afinidade com estes bons malandros e sentirmos alguma pena pelo desfecho final.

 O livro é dos melhores que li em 2011 e o facto de com todo este desfasamento temporal ainda parecer algo novo sem parecer pretencioso reflecte a qualidade da sua escrita, simples sem ser simplista, e que não é mais do que a brisa fresca do Tejo no amanhecer à beira-rio.


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