Há uma Lisboa feita de golpes, uma Lisboa de pequenos assaltantes que fazem pela vida, de linguagens secretas, de nomes de guerra. Há uma Lisboa dos malandros. Há tudo isso e seria fácil dizer que esta obra de Mário Zambujal é uma viagem a essa Lisboa. Só que isso não seria verdade!
A Crónica dos Bons Malandros, que viu a luz do dia pela primeira vez em 1980, é um livro que procura dar razão a quem diz que os trinta são os novos vinte. A julgar pela frescura da escrita os trinta até podiam ser a nova adolescência. O livro encontra-se extraordinariamente bem escrito, facto que hoje em dia pode parecer surpreendente, mas não será tanto se considerarmos a experiência de escrita e comunicação do autor, jornalista de outros tempos, de outras escolas.
A obra centra-se na história de uma quadrilha de pequenos assaltantes lisboetas, com uma alergia (justificada) a armas, à qual é proposto um assalto à Gulbenkian. Como modo de preparação para o desfecho dessa acção somos levados a conhecer a história dos autores de tão grandiosa empresa e que variado grupo esse é. Há quem tenha nascido com a malandragem no sangue, há quem se tenha visto obrigado a malandrar, há os que se calhar até tinham jeito para outras coisas e no final é impossível não sentirmos alguma afinidade com estes bons malandros e sentirmos alguma pena pelo desfecho final.
O livro é dos melhores que li em 2011 e o facto de com todo este desfasamento temporal ainda parecer algo novo sem parecer pretencioso reflecte a qualidade da sua escrita, simples sem ser simplista, e que não é mais do que a brisa fresca do Tejo no amanhecer à beira-rio.
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